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60 anos do Vaticano II: o legado do decreto Ad Gentes

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60 anos do Vaticano II: o legado do decreto Ad Gentes

Em 8 de dezembro, celebramos 60 anos do encerramento do Concílio Vaticano II e da proclamação do Decreto Ad Gentes. Tudo começou em 25 de janeiro de 1959, em que o Papa João XXIII, reunido com um grupo de cardeais, anunciou a decisão de convocar um Concílio Ecumênico. A notícia, inesperada e surpreendente, causou grande impacto em uma época marcado pela Guerra Fria e por um catolicismo satisfeito com suas certezas. O anúncio despertou curiosidade e esperança, mas também provocou desconfiança e reserva entre muitos membros do episcopado.

A fase pré-conciliar foi, para João XXIII, um tempo de solidão e resistência. Na Cúria Romana, encontrou uma forte oposição às orientações para os trabalhos preparatórios. A primeira fase ficou praticamente sob o controle da Cúria. Somente a partir de junho de 1960, com perseverança e discernimento, o Papa conseguiu imprimir sua visão e direcionar os rumos do processo conciliar. Finalmente, no dia 11 de outubro de 1962, João XXIII proclamou solenemente a abertura do Concílio Vaticano II.

Três anos depois, em 8 de dezembro de 1965, sob o pontificado de Paulo VI, concluíam-se os trabalhos conciliares. O Vaticano II marcava um novo tempo de atualização e abertura da Igreja ao mundo moderno. Entre as Constituições, Decretos e Declarações, o Concílio ofereceu dezesseis documentos. Entre eles, está o Decreto Ad Gentes, sobre a atividade missionária da Igreja, que passou por um processo difícil e demorado de elaboração, até ser aprovado e promulgado por Paulo VI em 7 de dezembro de 1965.

Sabemos que do século XVI ao Concílio Vaticano II, a missão foi muitas vezes, marcada por uma visão eurocêntrica e colonial. Sob a máxima “fora da Igreja não há salvação”, a ação missionária se associou, com frequência, à expansão cultural, geográfica, colonial e política da Europa, negando a identidade e a dignidade dos outros povos. Essa mentalidade entrou em crise a partir dos processos de descolonização e das mudanças socioculturais e políticas do pós-guerra. Inclusive, a descristianização da Europa e o surgimento de novas realidades globais exigiram uma profunda revisão do modo de compreender e viver a missão.

O Decreto Ad Gentes, sobre a atividade missionária da Igreja, abriu um novo horizonte para a compreensão da missão e inspirou uma renovada reflexão teológica e pastoral no seio eclesial. Antes de sua promulgação, o documento passou por sete esboços, que revelaram as tensões e debates internos acerca do significado do paradigma da “missão”. Esses textos preparatórios comprovaram o lento processo de construção de um consenso em torno de uma nova visão, de uma Igreja que já não tem “territórios missionários” nem se vincula a um modelo de missão colonial, mas que reconhece ser, em sua própria essência, missionária por natureza.

Porém, Ad Gentes não consegui se libertar totalmente dos vestígios do antigo paradigma missionário, tendo ainda, expressões como “missões”, “territórios de missão” e “implantação da Igreja”. Esses conceitos, também refletem, uma visão geográfica e institucional da missão, herdada de séculos anteriores. Durante muito tempo, falava-se em “missões estrangeiras” (Bento XV), “missões entre infiéis” (Pio XI) ou “territórios de missão” (João XXIII). Em contraste, o Vaticano II introduz uma nova compreensão teológica, a Missio Dei. A missão passou a ser entendida não como uma atividade da Igreja, mas como participação do próprio movimento trinitário do amor de Deus Pai, que envia o Filho e o Espírito para a salvação do mundo. Portanto, a Igreja não é a origem da missão, mas continuadora da missão do próprio Deus. Chamada a prolongar no mundo o movimento do amor trinitário que sai de si, comunica vida e cria comunhão, isto é, da missão de Deus à missão da Igreja.

O Decreto Ad Gentes começa afirmando que “a Igreja peregrina é, por sua natureza, missionária, visto que tem a sua origem, segundo o desígnio de Deus Pai, na missão do Filho e do Espírito Santo” (AG, 2). Então, a missão não é uma iniciativa humana, mas expressão do amor de Deus que se comunica, se faz próximo e se doa à humanidade. Assim sendo, a Igreja participa da dinâmica trinitária, pois ela não possui uma missão, mas é chamada a continuar a missão do próprio Deus no mundo, então Deus é missionário, logo a Igreja é missionária na sua natureza. Se a missão vem de Deus, não tem fronteiras, deve alcançar “os confins da terra” (At 1,8). Por consequência, pelo batismo todos somos missionários, pois “todos os filhos da Igreja tenham consciência viva das suas responsabilidades para com o mundo” (AG, 36).

A riqueza da teologia da missão se alimenta da reflexão do Decreto Ad Gentes e do conjunto dos documentos conciliares, que oferecem à Igreja uma nova visão de si mesma, da missão e do mundo. O Vaticano II representa um ponto de chegada de uma longa tradição missionária e um ponto de partida, que inaugura uma nova caminhada missionária, que continua marcada por desafios e tensões, como o diálogo interreligioso, o ecumenismo, a inculturação, a cooperação missionária, a opção pelos pobres, a sinodalidade, entre tantos outros desafios. Enfim, como Igreja missionária somos chamados a viver o Concílio Vaticano II como um processo vivo de renovação no seguimento de Jesus Cristo e no serviço ao mundo.

Pe. Rafael Lopez Villasenor, sx

Brasile 2

Pe. Rafael Lopez Villasenor, sx
04 Dicembre 2025
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