Skip to main content

Além da missão ad extra

2102/500

Encontro CEMLA – Medellín 2024

Estivemos reunidos de 26 de fevereiro a 1 março de 2024, no Centro Xaveriano de Animação Missionária e Vocacional em Medellín, Colômbia, por ocasião do 12º Encontro do Centro de Estudos Missionários Latino-Americano (CEMLA). Estavam presentes Rafael López Villaseñor e Estêvão Raschietti da Região Brasil Sul; Raymundo Camacho Covarrubias da Região Brasil Norte; Tea Frigerio das Missionárias de Maria-Xaverianas da Região do Brasil; Osvaldo Pulido Reynoso da Delegação da Colômbia; Gerardo Custodio López e Diego Jorge Alvarado Pacheco da Região do México. Juntos analisamos, revisamos e discutimos os textos elaborados durante o ano de 2024 que abordaram o tema: “Além da missão ad extra”. O debate que realizamos foi intenso, participativo e produtivo. Aqui vão algumas anotações que gostaríamos de partilhar.

Ad extra entre os confins da terra e as periferias existenciais

cemla2024A missão ad extra entendida principalmente como saída geográfica do próprio ambiente, cultura e igreja de origem (C 9), constitui um critério importante, mas insuficiente para definir os contornos de um carisma e de um projeto missionário ad gentes. Hoje as fronteiras são múltiplas, são coloniais, são invisíveis, são excludentes e necessitam serem assumidas com urgência, ousadia e sem medo para que seja testemunhado e anunciado o Reino da Vida a todos. Impulsionada pela perspectiva da “Igreja em saída” do Papa Francisco, a missão é chamada a tomar iniciativa (EG 24), deixando a tranquilidade passiva dos templos e das sacristias (DAp 548), saindo da própria comodidade e tendo a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho (EG 20): “nada do humano pode lhe parecer estranho” (DAp 380).

Isso implica não apenas mudar de país, aprender uma língua e se inserir na vida de outro povo, mas ter a capacidade de olhar o humano a partir de dentro, perceber as alegrias e as tristezas, saber colher os anseios e as aflições, partilhar o cotidiano com espírito de serviço e de luta, tecer relações humanas de ternura e de amizade, habitar as fronteiras do mundo dos pobres: aprender, escutar, dialogar, trabalhar, viver e, sobretudo, alimentar a esperança. Muito mais que um movimento exterior, a missão ad extra é chamada a expressar um movimento interior, um jeito de ser e de viver, uma paixão intensa e incarnada pela humanidade, um impulso de gratuidade que não se contêm e que alcança a extensão dos confins da terra nas profundezas das periferias existenciais.

Tudo isso do que estamos afirmando, não é muito diferente do que já dizia Paulo VI na Evangelii Nuntiandi: “para a Igreja não se trata tanto de pregar o Evangelho a espaços geográficos cada vez mais vastos, mas de chegar a atingir os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade” (EN 19). Por sua vez o Documento de Puebla lembrava: “a evangelização tem de calar fundo no coração do homem e dos povos. Por isso sua dinâmica procura a conversão pessoal e a transformação social. A evangelização há de estender-se a todos os povos; por isso sua dinâmica procura a universalidade do gênero humano. Ambos estes aspectos são de atualidade para evangelizar hoje e amanhã a América Latina” (DP 362).

Repetita iuvant ... sed secant?

cemla2024 02Muitas das reflexões que aqui apresentamos, são propositalmente argumentos que retomamos e repetimos várias vezes em nossos Cadernos: “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”? Apesar de ter chamado à atenção frequentemente para os avanços da Teologia da Missão dos últimos 30-40 anos, certas ideias teimam a entrar na reflexão e na prática missionária, tanto em nível de comunidades locais como também em nível institucional. A dificuldade de se desprender de saudosas visões do passado que motivaram entregas heroicas e testemunhos exemplares, assim como o surgimento inovador de instituições missionárias, parece vinculada ao medo de uma infidelidade intencional em relação ao carisma fundacional e de um repúdio dos propósitos pelos quais essas realidades foram criadas.

Com efeito, qualquer carisma tem sempre seus contornos estritamente contextuais: surge em um determinado âmbito sociocultural, alimenta-se de uma sensibilidade e uma espiritualidade encarnada numa conjuntura histórica, transmite uma visão de mundo ligada a uma particular compreensão da realidade. Essas são as condições básicas para um carisma surgir, existir e se comunicar: o carisma congregacional é sempre histórico e, portanto, intrinsecamente finito em suas expressões, em suas articulações e em seus projetos.

Com a mudança dos tempos e dos contextos, os propósitos e as finalidades de qualquer realidade associativa vão radicalmente revistas e ressignificadas, pena correr o risco de se tornar irrelevantes e autorreferenciais diante dos novos desafios que se apresentam.

Hoje em dia, parece que os xaverianos no seu conjunto e como instituição estão ancorados a um passado que não existe mais, apesar dos muitos documentos publicados e dos aggiornamenti realizados. Repetimos mais uma vez: o mundo não é mais o mesmo de cem, cinquenta ou trinta anos atrás. Uma afirmação tanto obvia como tremendamente mal assimilada. A realidade fala por si, apesar dos filtros ideológicos dedutivos com os quais habitualmente a analisamos.

Amar a nossa vocação missionária

Desta maneira, o axioma da missio ad gentes, ad extra, ad vitam pode resultar tanto anacrônico quanto vazio de significado para a conjuntura atual, se não se fizer uma releitura e uma ressignificação profunda. Pode estar sendo utilizado para justificar tanto uma missão colonial, como também uma “missão liquida”, acomodada e esvaziada de compromisso profético.

Parece-nos claramente de perceber uma certa resistência em nível congregacional em enfrentar com coragem as implicações de um novo paradigma missionário que emerge das mudanças epocais que estão acontecendo. Isso requer uma nova mentalidade, uma nova linguagem e uma nova visão teológica que fatiga a vingar, enquanto o clericalismo, o conformismo e o paroquialismo continuam ceifando perspectivas esperançosas de transformação.

Ao mesmo tempo, quem procura encabeçar uma reflexão e uma pesquisa em determinadas direções, é marginalizado no limbo das múltiplas opiniões descartáveis. Estudos e reflexões não serão em todo caso perdidos, porque outras pessoas e outros projetos, cedo ou tarde, irão fazer um bom proveito deles. Todavia, não é certamente edificante assistir a uma articulação introspectiva que produz documentos insossos, diretrizes irrelevantes, programas anacrônicos e sem impulso profético, enquanto teríamos um magistério pontifício que poderia nos inspirar e incentivar a dar expressivos saltos adiante. Quem sabe lendo os documentos do último Capítulo Geral possamos encontrar luzes que ajudam a vislumbrar novos caminhos.

Colocar a missão em questão não é uma falta de amor à vocação missionária e nem à congregação xaveriana: pelo contrário, exatamente porque é de corpo e alma que nos dedicamos à missão ad gentes, entendemos que essa realidade genuinamente evangélica há de ser estruturalmente repensadas para os dias atuais, segundo certas perspectivas, assim como de outras que eventualmente haverão de surgir. E tudo isso para responder adequadamente e responsavelmente à missão à qual fomos chamados e chamadas.

Os temas tratados no encontro

Os artigos que aprontamos para a edição desse caderno, podem se dividir em dois blocos: uma reflexão sobre a missão ad extra em si, e uma reflexão sobre as fronteiras que somos chamados a cruzar e a habitar.

Abrimos o primeiro bloco com a contribuição de Rafael Lopes que trata da missão ad extra como saída dos próprios esquemas culturais e religiosos. Retomando alguns princípios básicos de uma Teologia da Missão atualizada, Rafael aponta para o diálogo intercultural e interreligioso como nova e fundamental maneira de encontro com os outros, e o êxodo de nós mesmos como processo de aproximação, encarnação e itinerância a caminho de uma descolonização da missão.

Por sua vez, Geraldo Custodio convida a refletir sobre a missão ad extra como saída e reposicionamento, já numa ótica tipicamente xaveriana, retomando também temas de Teologia Fundamental da Missão como a Missio Dei, o diálogo, a decolonização. Passa, portanto, a tratar do tema ad extra do ponto de vista bíblico, intercultural, pastoral, redescobrindo a figura de Jesus e, consequentemente, a do missionário aberto a atender as novas realidades que aparecem em seu caminhar.

“Cruzar fronteiras, habitar periferias e abrir caminhos” é o subtítulo do aporte de Estêvão Raschietti, que começa apresentando certas contradições de como se vive hoje a missio ad extra nos institutos missionários. Esse princípio remete à Igreja em saída do Papa Francisco, que implica antes de tudo um sair de nós mesmos, uma travessia de “nossas” fronteiras, um habitar os extremos do humano e um abrir caminhos de superação derrubando muros, construindo pontes e alimentando esperanças.

Em seguida, Tea Frigerio nos propõe uma reflexão bíblica ecumênica sobre as fronteiras, conjugando o verbo “sair” como resposta a um grito pela vida. “Sair” é uma linha que costura todo texto sagrado, e que encontra em Jesus e em Paulo duas figuras paradigmáticas e apocalípticas, porque a luz que os guia é “um novo céu e uma nova terra”: habitar as fronteiras com coração sem fronteiras é utopia apocalíptica para hoje.

Entre as fronteiras do mundo contemporâneo que nos convidam a sair ad extra, está sem dúvida o mundo da educação. A periferia existencial do ponto de vista humano e religioso representada pelo ambiente escolar, é algo que necessita sensibilizar a todos, segundo Jorge Alvarado. Anunciar o Reino de Deus vai além da busca de seguidores da religião católica: a missão na educação está orientada para a realidade cotidiana do povo. Nesse sentido, a Igreja precisa ser profundamente humana em sua ação evangelizadora e no trato com as pessoas.

Relacionado a este tema, o artigo de Osvaldo Pulido Reynoso aprofunda a fronteira da pós-modernidade como desafio para a pastoral da juventude na América Latina. Mergulhados num mundo que exalta a autonomia, o relativismo, a pós-verdade, o consumismo, o imediatismo, as novas gerações são as que mais se identificam com as transformações culturais mais profundas impulsionadas pelas redes sociais. Essa fronteira exige da Igreja missionária um ad extra paciente e humilde, disposto a escutar e a se descalçar para abrir caminho num acompanhamento feito de propostas e de processos.

Enfim, Raymundo Camacho nos apresenta as novas fronteiras junto aos povos indígenas, também fortemente influenciados pelas mesmas mudanças culturais epocais: fronteiras internas em seu meio, como o confronto entre gerações, e fronteiras externas como a pressão política e econômica perpetrada por grupos de poder. A realidade em contínua transformação exige dos missionários reposicionamento e uma renovada opção de fé diante da sensação de impotência, mas também acreditando e celebrando de sinais de vitória.

Desburocratizar a missão

Com esse quadro queremos apenas talvez abrir um debate entre missionários e missionárias, para discernir continuamente os caminhos da missio ad extra e de seu contínuo cruzar fronteiras. Parece-nos que, diante dos desafios do mundo atual, precisamos desconstruir a identificação unívoca do ad extra com as fronteiras geográficas: um dogmatismo nesse sentido não faria justiça a uma autêntica sensibilidade missionária, e nem a um carisma radicado no mais genuíno espírito evangélico.

Precisamos prestar atenção à pauta das urgências que o mundo nos apresenta, antes de elaborar projetos de vida a partir de saudosos pressupostos. Uma missão além do ad extra convida a enxergar as fronteiras existenciais em qualquer lugar onde nós estamos, aqui e agora, saindo da acomodação sem titubear, com coragem e ousadia, desburocratizando e desamarrando a missão ad gentes de vínculos excessivamente institucionalizados.

Agradecemos imensamente a atenção fraterna e a acolhida aconchegante dos confrades de Medelín, Osvaldo, Leonardo e Yeremias, que proporcionaram mais uma vez um encontro do Cemla na Delegação da Colômbia.

Marcamos o próximo encontro de 10 a 14 de março de 2025 em Belém, refletindo sobre o tema “Além da missão ad vitam”.

Medellín, 1 de março de 2024


Más allá de la misión "ad extra"

Encuentro del CEMLA – Medellín 2024

Nos reunimos del 26 de febrero al 1 de marzo de 2024, en el Centro Javeriano de Animación Misionera y Vocacional en Medellín, Colombia, con motivo de la 12ª Reunión del Centro de Estudios Misioneros Latinoamericanos (CEMLA). Asistieron Rafael López Villaseñor y Estêvão Raschietti de la Región Sur de Brasil; Raymundo Camacho Covarrubias, de la Región Brasil Norte; Tea Frigerio de las Misioneras de María Xaverianas de la Región de Brasil; Osvaldo Pulido Reynoso, de la Delegación de Colombia; Gerardo Custodio López y Diego Jorge Alvarado Pacheco de la Región de México. Juntos analizamos, revisamos y discutimos los textos elaborados durante el año 2024 que abordaron el tema: "Más allá de la misión ad extra". El debate que mantuvimos fue intenso, participativo y productivo. Aquí hay algunas notas que nos gustaría compartir.

Ad extra entre los confines de la tierra y las periferias existenciales

La misión ad extra, entendida ante todo como salida geográfica del propio ambiente, cultura e Iglesia de origen (C 9), constituye un criterio importante, pero insuficiente para definir los contornos de un carisma y de un proyecto misionero ad gentes. Hoy las fronteras son múltiples, son coloniales, son invisibles, son excluyentes y necesitan ser asumidas con urgencia, audacia y sin miedo para que el Reino de la Vida sea testimoniado y anunciado a todos. Impulsada por la perspectiva de la "Iglesia en salida" del Papa Francisco, la misión está llamada a tomar la iniciativa (EG 24), saliendo de la tranquilidad pasiva de los templos y de las sacristías (DAp 548), saliendo de la propia zona de confort y teniendo la valentía de llegar a todas las periferias que necesitan la luz del Evangelio (EG 20): "nada humano puede parecerle extraño" (DAp 380).

Esto implica no solo mudarse a otro país, aprender un idioma e insertarse en la vida de otro pueblo, sino tener la capacidad de mirar lo humano desde adentro, de percibir las alegrías y las penas, de saber captar las alegrías y las tristezas, de saber recoger los anhelos y las aflicciones, compartir la vida cotidiana con espíritu de servicio y lucha, de tejer relaciones humanas de ternura y amistad, habitar las fronteras del mundo de los pobres: aprender, escuchar, dialogar, trabajar, vivir y, sobre todo, alimentar la esperanza. Mucho más que un mero movimiento hacia afuera, la misión ad extra está llamada a expresar un movimiento interior, un modo de ser y de vivir, una pasión intensa y encarnada por la humanidad, un impulso de gratuidad que no se puede contener y que llega a extenderse hasta los confines de la tierra en las profundidades de las periferias existenciales.

Todo esto que estamos afirmando no difiere mucho de lo que decía Pablo VI en la Evangelii nuntiandi: "Para la Iglesia no se trata solamente de predicar el Evangelio en zonas geográficas cada vez más vastas o poblaciones cada vez más numerosas, sino de alcanzar y transformar con la fuerza del Evangelio los criterios de juicio, los valores determinantes, los puntos de interés, las líneas de pensamiento, las fuentes inspiradoras y los modelos de vida de la humanidad" (EN 19). Por su parte, el Documento de Puebla recordaba: "La Evangelización ha de calar hondo en el corazón del ser humano y de los pueblos; por eso, su dinámica busca la conversión personal y la transformación social. La Evangelización ha de extenderse a todas las gentes; por eso, su dinámica busca la universalidad del género humano. Ambos aspectos son de actualidad para evangelizar hoy y mañana en América" (DP 362).

Repetita iuvant... ¿sed secant?

Muchas de las reflexiones que aquí presentamos son argumentos intencionados que hemos retomado y repetido varias veces en nuestros Tomos CEMLA: "agua blanda sobre piedra dura tanto golpea hasta que perfora" (del dicho brasileño: agua mole em pedra dura tanto bate até que fura). Aunque a menudo ha llamado la atención sobre los avances de la Teología de la Misión de los últimos 30-40 años, algunas ideas se niegan a entrar en la reflexión y en la práctica misionera, tanto a nivel de las comunidades locales como también a nivel institucional. La dificultad de desprenderse de las visiones nostálgicas del pasado que motivaron la entrega heroica y los testimonios ejemplares, así como el surgimiento innovador de las instituciones misioneras, parece estar ligada al miedo a la infidelidad intencionada al carisma fundacional y al repudio de los fines para los que fueron creadas estas realidades.

De hecho, todo carisma tiene siempre sus contornos estrictamente contextuales: surge en un contexto sociocultural determinado, se alimenta de una sensibilidad y de una espiritualidad encarnadas en una coyuntura histórica, transmite una visión del mundo vinculada a una comprensión particular de la realidad. Estas son las condiciones básicas para que un carisma surja, exista y se comunique: el carisma congregacional es siempre histórico y, por tanto, intrínsecamente finito en sus expresiones, en sus articulaciones y en sus proyectos.

Con el cambio de tiempos y contextos, los propósitos y finalidades de cualquier realidad asociativa se revisan y resignifican radicalmente, con el riesgo de volverse irrelevantes y autorreferenciales ante los nuevos desafíos que se presentan.

Hoy en día, parece que los xaverianos en su conjunto y como institución están anclados a un pasado que ya no existe, a pesar de los numerosos documentos publicados y de los aggiornamenti realizados. Repetimos una vez más: el mundo ya no es el mismo que hace cien, cincuenta o treinta años atrás. Una afirmación tan obvia como tremendamente malinterpretada. La realidad habla por sí sola, a pesar de los filtros ideológicos deductivos con los que solemos analizarla.

Amar nuestra vocación misionera

De este modo, el axioma de la missio ad gentesad extraad vitam puede resultar anacrónico y carente de sentido para la coyuntura actual, si no se hace una profunda relectura y resignificación. Puede estar siendo utilizado tanto para justificar una misión colonial como también una "misión líquida", acomodada y vacia de compromiso profético.

Nos parece claro de percibir una cierta resistencia a nivel congregacional para afrontar con valentía las implicaciones de un nuevo paradigma misionero que emerge de los cambios de época que se están dando. Esto requiere una nueva mentalidad, un nuevo lenguaje y una nueva visión teológica que le está costando aparecer, mientras que el clericalismo, el conformismo y lo parroquiano siguen cosechando perspectivas esperanzadoras de transformación.

Al mismo tiempo, quienes buscan promover la reflexión y la investigación en determinadas direcciones son marginados en el limbo de las múltiples opiniones desechables. Los estudios y las reflexiones no se perderán en ningún caso, porque otras personas y otros proyectos, tarde o temprano, harán un buen uso de ellos. Sin embargo, ciertamente no es edificante asistir a una articulación introspectiva que produce documentos vacíos, directivas irrelevantes, programas anacrónicos sin impulso profético, mientras que podríamos tener un magisterio pontificio que nos inspirara y animara a dar saltos significativos hacia adelante. Quién sabe si leyendo los documentos del último Capítulo General encontremos luz que nos ayuden a vislumbrar nuevos caminos.

Poner en cuestión la misión no es una falta de amor a la vocación misionera o a la congregación xaveriana: por el contrario, precisamente porque es en cuerpo y alma que nos dedicamos a la misión ad gentes, entendemos que esta realidad genuinamente evangélica debe ser estructuralmente repensada para el presente, según ciertas perspectivas, así como otras que eventualmente surgirán. Y todo ello con el fin de responder adecuada y responsablemente a la misión a la que hemos sido llamados y llamadas.

Los temas tratados en la reunión

Los artículos que hemos preparado para la edición de este nuevo tomo se pueden dividir en dos bloques: una reflexión sobre la misión ad extra en sí misma, y una reflexión sobre las fronteras que estamos llamados a cruzar y habitar.

Abrimos el primer bloque con la aportación de Rafael López, que aborda la misión ad extra como salida de los propios esquemas culturales y religiosos. Retomando algunos principios básicos de una Teología de la Misión actualizada, Rafael señala el diálogo intercultural e interreligioso como una nueva y fundamental forma de encuentro con los demás, y el éxodo de nosotros mismos como un proceso de acercamiento, encarnación e itinerancia en el camino hacia una descolonización de la misión.

Por su parte, Gerardo Custodio nos invita a reflexionar sobre la misión ad extra como salida y reposicionamiento, ya desde una perspectiva típicamente xaveriana, retomando también temas de la Teología Fundamental de la Misión como la Missio Dei, el diálogo, la decolonización. La perspectiva del tema ad extra lo analiza desde el punto de vista bíblico, intercultural y pastoral, redescubriendo la figura de Jesús y, en consecuencia, la del misionero abierto a atender las nuevas realidades que aparecen en su camino.

"Cruzar fronteras, habitar periferias y abrir caminos" es el subtítulo de la contribución de Esteban Raschietti, que comienza presentando ciertas contradicciones de cómo se vive hoy la missio ad extra en los institutos misioneros. Este principio se refiere a la Iglesia en salida del Papa Francisco, que implica ante todo un salir de nosotros mismos, cruzar "nuestras" fronteras, un habitar los extremos de lo humano y abrir caminos de superación derribando muros, construyendo puentes y alimentando esperanzas.

A continuación, Tea Frigerio propone una reflexión bíblica ecuménica sobre las fronteras, conjugando el verbo "salir" como respuesta a un grito por la vida. "Salir" es un hilo que cose todo texto sagrado, y que encuentra en Jesús y Pablo dos figuras paradigmáticas y apocalípticas, porque la luz que los guía es "un cielo nuevo y una tierra nueva": habitar fronteras con un corazón sin fronteras es una utopía apocalíptica para hoy.

Entre las fronteras del mundo contemporáneo que nos invitan a salir ad extra, está sin duda el mundo de la educación. La periferia existencial desde el punto de vista humano y religioso, representada por el ámbito escolar, es algo que debe sensibilizar a todos, según Jorge Alvarado. El anuncio del Reino de Dios va más allá de la búsqueda de seguidores de la religión católica: la misión en la educación está orientada a la realidad cotidiana de las personas. En este sentido, la Iglesia necesita ser profundamente humana en su acción evangelizadora y en su trato con las personas.

Relacionado con este tema, el artículo de Osvaldo Pulido Reynoso profundiza la frontera de la posmodernidad como desafío para la pastoral juvenil en América Latina. Inmersas en un mundo que exalta la autonomía, el relativismo, la “posverdad”, el consumismo, la inmediatez, las nuevas generaciones son las que más se identifican con las transformaciones culturales más profundas impulsadas por las redes sociales. Esta frontera exige de la Iglesia misionera un ad extra paciente y humilde, dispuesto a escuchar y a quitarse los zapatos para dar paso a un acompañamiento hecho de propuestas y procesos.

Finalmente, Raymundo Camacho nos presenta las nuevas fronteras vividas al lado de los pueblos indígenas, que también son fuertemente influenciados por los cambios culturales de la época: fronteras internas en medio de ellos, como el desencuentro entre generaciones; fronteras externas como la presión política y económica perpetrada por los grupos de poder. La realidad en continua transformación exige de los misioneros un reposicionamento y una renovada opción de fe delante de una sensación de impotencia, pero también creyendo y celebrando los signos de victoria.

Desburocratizar la misión

Con este marco simplemente queremos abrir un debate entre misioneros y misioneras para discernir continuamente los caminos de la missio ad extra y su continuo cruce de fronteras. Nos parece que, frente a los desafíos del mundo actual, es necesario “desconstruir” la identificación unívoca del ad extra con las fronteras geográficas: el dogmatismo en este sentido no haría justicia a una auténtica sensibilidad misionera, ni a un carisma arraigado en el más genuino espíritu evangélico.

Necesitamos poner atención a la agenda de emergencias que nos presenta el mundo, antes de elaborar proyectos de vida basados ​​en nostálgicas suposiciones. Una misión más allá del ad extra nos invita a ver las fronteras existenciales allí donde estemos, aquí y ahora, dejando lo cómodo sin titubear, con valentía y audacia, desburocratizando y desvinculando la misión ad gentes de vínculos excesivamente institucionalizados.

Estamos inmensamente agradecidos por la atención fraterna y la cálida acogida de los hermanos de Medellín: Osvaldo, Leonardo y Yeremías, que una vez más brindaron un encuentro de Cemla en la Delegación de Colombia.

Programamos el próximo encuentro del 10 al 14 de marzo de 2025 en Belém, reflexionando sobre el tema "Más allá de la misión ad vitam".

Medellín, 1 de marzo de 2024

 

 

CEMLA
01 Abril 2024
2102 Vistas
Disponible en
Etiquetas

Enlaces y
Descargas

Esta es un área reservada a la Familia Javeriana.
Accede aquí con tu nombre de usuario y contraseña para ver y descargar los archivos reservados.
Documentos públicos Tamaño
Caderno 11
517.45 KB
Free
Descarga